Um relatório recente da More Than Equal explorou os dados envolvendo mulheres no esporte a motor, identificando dois desafios principais para as pilotos: a diferença de participação e de performance.
A diferença de performance foi destacada pelo fato de que a pesquisa descobriu que, atualmente, as mulheres representam em média apenas 10% entre todas as categorias de competição, com o percentual maior no kart - um formato que contribui para 40% da participação feminina.
Cerca de 13% da participação no kart veio das pilotos, uma média que cai para 7% nas categorias de fórmula e GT.
A iniciativa More than Equal, criada pelo piloto vencedor de 13 GPs de F1 David Coulthard e o empresário Karel Komarek tem como objetivo ajudar no desenvolvimento daquela que será a primeira campeã mundial de F1.
O objetivo é atingir tal meta focando em quatro pontos prioritários - basear-se em evidências e fornecer a investigação e o conhecimento para ajudar a quebrar barreiras no esporte a motor para as mulheres; procurar globalmente jovens talentos femininos; construir um programa de desenvolvimento de pilotos para jovens mulheres com alto potencial e conectar estes talentos com as oportunidades certas, ajudando-as a progredir.
A primeira parte da pesquisa, realizada em parceria com a Motorsport Network, também descobriu que as atuais pilotos seguem competindo, mas sem progredir no mesmo ritmo para as principais categorias do mundo, onde elas representam uma pequena porcentagem - apenas 4% atualmente.
Claramente, para termos mais mulheres competindo na ponta mais consistentemente, o esporte precisa de mais mulheres correndo na base e subindo a escada.
Piloto no British Touring Car Championship (BTCC), Jade Edwards foi a primeira mulher a competir na categoria em mais de uma década, e segue sendo a única no grid. Falando com o Motorsport.com. Falando com o Motorsport.com, ela concorda que os problemas começam a surgir pelo fato de termos um número menor de mulheres na base.
"Acho que pra mim, pessoalmente, é menos sobre ser homem ou mulher, é mais pelo fato de que há poucas de nós para começar. Então quando se chega ao mesmo nível que eu, ou acima, vamos dizer que há 50 homens, e apenas 5 a 10 mulheres. A maioria desses não vai chegar lá, e vai ter mais homens porque há mais deles desde o começo, então acaba sendo menos notável".
"Já corri contra homens e mulheres desde os meus primeiros dias, e um alto percentual deles não está correndo mais. Mas possivelmente uma ou duas mulheres nesses campeonatos contra 20 ou 25 homens. Financeiramente também, acho que faz uma grande diferença. Não acho que seja necessariamente algo ligado a ser homem ou mulher, e sim porque há menos de nós na base".
É notável também ver que as pilotos estão saindo do esporte bem mais cedo que os homens, com as carreiras das mulheres durando, em média, de um a cinco anos, enquanto a dos homens tende a ir além dos 12.
Se elas seguem nas pistas, as mulheres dificilmente aparecem no top 20% de qualquer ranking. As pilotos tendem a ficar mais no meio dos 70% intermediário das corridas, mas têm ainda o dobro de chances de aparecerem nos 10% finais.
Questionada por que pensava que esse era o caso, Edwards acrescentou: "De novo, acho que a resposta está nos números. Se você olhar para os percentuais de 20 homens que entraram no grid, quantos destes estão nas categorias de ponta? Quantos fazem uma ou duas temporadas? Também é um número pequeno".
"Há mais deles, então não notamos tanto. É uma indústria altamente financeira, e um grande número de pilotos homens sofrem financeiramente, não é só as mulheres. Então eu vejo falando que as mulheres parecem desistirem mais, mas há menos de nós, por isso se destaca mais".
Maya Weug, piloto da Academia da Ferrari e que disputa a Fórmula Regional Europeia, concorda que os baixos números é um desafio fundamental. Tendo começado no esporte aos sete anos, ela se juntou ao time de Maranello em 2021 após ser a primeira vencedora do FIA Girls on Track.
Questionada sobre o motivo para o percentual maior de desistência entre as mulheres, ela disse ao Motorsport.com:
"Financeiramente, é um esporte difícil, mas há vários fatores que provavelmente dependem uns dos outros, não sendo porque elas não querem".
"Há uma igualdade entre a baixa quantidade de mulheres que começam e os caras que param nessa idade, mas com muitos homens mais, você não percebe tanto".
Discutindo os desafios que ela enfrenta como uma jovem piloto, Weug disse: "Bem, fisicamente é um esporte que demanda. Tenho que treinar muito. Todos têm que treinar muito, mas me leva mais tempo para atingir tal nível físico".
"Mas, no fim, se você quiser, você vai colocar o esforço necessário. Não vejo como um grande problema. Eu comecei a correr quando tinha sete anos, então me acostumei a ficar ao redor dos homens nesse ambiente. Quanto mais eu cresço, mais vejo mulheres envolvidas no esporte e mais".
"Me acostumando com isso desde tão cedo, você acaba não pensando tanto nisso".
Questionando se ela sentia que havia sofrido um tratamento diferente por causa de seu gênero, Weug disse: "Acho que quando você é jovem, não pensa tanto nisso. Então eu nunca pensei nisso quando estava pilotando com 7, 10, 12, qualquer que seja a idade. Eu estava pilotando, e a única coisa que descobri é que os meninos não gostam quando uma menina termina na frente deles".
"Então você precisa conquistar o respeito na pista, e assim que eles te respeitam, tudo fica bem. Mas nunca me senti desrespeitada ou que fizeram algo contra mim por eu ser uma mulher. Você precisa apenas ser rápida, mostrando o que você é capaz de fazer".
Ali Donnelly, CEO da More than Equal, disse que os esforços simultâneos para aumentar a participação dentro do esporte, combinado com o trabalho para apoiar as pilotos mais talentosas, é crucial.
"Nossa pesquisa mostra o quão estatisticamente desafiador será encontrar uma mulher campeã mundial de F1 com os números atuais de mulheres que participam no automobilismo competitivo. Isso precisa ser resolvido com urgência e estamos agora vendo iniciativas positivas sendo introduzidas em reconhecimento a isso".
"É verdade que a baixa participação é um fator determinante nessa diferença de performance e que isso impede o sucesso das pilotos, mas há outros, incluindo o fato de que as mulheres não recebem o mesmo apoio, especialmente financeiro, em comparação com os homens, e não há suporte suficiente no começo da trajetória para aquelas que mostram um grande potencial".
Donnelly acrescentou que o plano da More than Equal de introduzir um programa de desenvolvimento de jovens pilotos que ajudaria a resolver essa diferença de performance, ao produzir uma leva de mulheres prontas para atingirem o topo nos próximos anos.
"Esse trabalho está sendo realizado agora, estamos olhando uma lista de jovens talentosas que estão competindo e mostrando alto potencial. Estamos animadas em iniciar o treinamento delas no próximo ano como parte de nosso projeto de longo prazo".